Apesar da retração, negócios fecham trimestre em alta.
Moderação das restrições e medidas governamentais poderão provocar reversão da tendência.
Para abril, o percentual de queda deve se acentuar. No entanto, Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios, projeta recuperação futura. “No decorrer dos próximos meses, acreditamos que, com o alívio do distanciamento social e considerando as medidas de política monetária adotadas pelo Banco Central, será possível manter a situação de liquidez do mercado.
Em tempos de pandemia da Covid-19, o comportamento pessoal, familiar e profissional mudou. Novos procedimentos foram adotados, principalmente na preservação da saúde. Pessoas e governo passaram a buscar alternativas que possibilitassem também a sobrevivência financeira durante e após o surto do coronavírus.
No Sistema de Consórcios, o impacto foi sentido a partir da segunda quinzena de março. Houve retração de 23,8% no total de vendas de novas cotas sobre o mês anterior.
Enquanto em janeiro e fevereiro as adesões totalizaram 284,45 mil e 245,66 mil, respectivamente, em março somaram 187,10 mil cotas. Todavia, o acumulado trimestral em relação ao ano passado registrou alta de 9,7%, com evolução de 653,50 mil (jan-mar/2019) para 717,20 mil (jan-mar/2020).
A exemplo das demais atividades econômicas, o segmento deverá continuar sentindo as consequências da pandemia da Covid-19.
“Contudo, entendemos que, diferentemente de alguns mercados, no qual o contato presencial com o cliente é necessário, no Sistema de Consórcios os negócios são perfeitamente adaptáveis à nova realidade, com negociações remotas, desde a primeira abordagem, quando da adesão ao grupo, até os contatos posteriores de suporte ao cliente,” diz Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios.
Para abril, o percentual de queda deve se acentuar. No entanto, Rossi projeta recuperação futura. “No decorrer dos próximos meses,” completa Rossi, “acreditamos que, com o alívio do distanciamento social e considerando as medidas de política monetária adotadas pelo Banco Central, será possível manter a situação de liquidez do mercado. Ao adicionarmos as do governo, de natureza fiscal e trabalhista, o Sistema de Consórcios deverá recuperar paulatinamente seus níveis de vendas”.
Medidas contribuem para recuperação econômica
Em momentos de crise, como a vivenciada, é fundamental manter o mercado em funcionamento, como home office ou atividades essenciais, por exemplo, de modo a permitir que empresas, investidores e consumidores tenham um mínimo de segurança e apoio. Para isso, a liquidez do mercado financeiro, propiciada pelas medidas anunciadas pelo Banco Central, é um dos pilares.
A redução inicial do compulsório dos bancos deverá provocar impacto, segundo o Banco Central, estimado em R$ 135 bilhões de reais no mercado, bem maior do que os R$ 82 bilhões de reais injetados durante a crise de 2008.
Por outro lado, medidas de natureza fiscal, como a elevação da meta de déficit público, a prorrogação de pagamentos de tributos, o apoio à pequena e média empresa, somando-se investimentos públicos que virão nas áreas de infraestrutura, poderão gerar efeito alavancador na economia.
Agregando ainda as medidas de cunho trabalhista, como pagamento de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, redução proporcional de jornada de trabalho e de salários, suspensão temporária do contrato de trabalho, disponibilização de linhas de crédito para a folha de pagamento e amparo a autônomos e informais, também deverão propiciar um ambiente favorável para que as empresas possam atravessar e superar este momento.
Administradoras orientam consorciados
Face ao ineditismo do cenário atual, a ABAC realizou encontros virtuais com as associadas, bem como promoveu gestões perante o Banco Central, para levantar situações e buscar soluções que pudessem se adequar ao momento financeiro do consorciado.
A relação entre a administradora, o grupo e o consorciado (contemplado, não contemplado e excluído) ocorre por contrato. É regida pelos termos baseados nas normas do Banco Central e na Lei 11.795/2008. “Razão pela qual”, recomenda Rossi, “os consorciados devem consultar suas administradoras para esclarecer eventuais dúvidas”.
Aspectos como adiamento de vencimento, penalizações por inadimplência ou atrasos, podem ser negociados por meio de acordos individuais, desde que não comprometam as obrigações do grupo de consórcios. De acordo com o comportamento financeiro de cada grupo, a administradora poderá submeter à deliberação de Assembleia Geral Extraordinária (AGE), uma vez que ela mesma não pode alterar condições contratuais sem autorização do grupo.
Vale lembrar que a insuficiência de saldo no fundo comum do grupo pode inviabilizar a contemplação por sorteio, restando ainda os lances que podem complementar o saldo de caixa possibilitando a contemplação por essa modalidade.
Importante registrar ainda que, em virtude da suspensão dos sorteios da Loteria Federal do Brasil pela Caixa Econômica Federal, a ABAC e a FenaCap firmaram acordo para a realização de sorteios em substituição às extrações da loteria, com acompanhamento dos dois auditores. Outras administradoras, que não necessitam desse tipo de sorteio para realizar a contemplação, cumprirão o estabelecido no contrato.
Apesar da queda em março, resultados do trimestre do sistema de consórcios são positivos
No primeiro trimestre do ano, vivendo as semanas iniciais da pandemia da Covid-19 antes das restrições, o Sistema de Consórcios anotou crescimento, ainda dentro das projeções feitas pela assessoria econômica da ABAC para 2020. As vendas de novas cotas alcançaram 717,20 mil unidades, 9,7% mais que as 653,50 mil acumuladas no mesmo trimestre de 2019.
O volume de contratos comercializados registrou aumento de 21,6%, saltando de R$ 27,60 bilhões do ano passado para R$ 33,56 bilhões neste ano. O tíquete médio de março atingiu R$ 51,44 mil, 15,8% sobre R$ 44,41 mil do mesmo mês de um ano antes.
O acumulado de contemplações somou 339,61 mil nos três primeiros meses, 12,1% superior às 303,00 mil de 2019. Os créditos concedidos correspondentes aos contemplados, que possivelmente serão injetados na cadeia produtiva, ao longo dos próximos meses, totalizaram R$ 13,80 bilhões, 33,2% acima dos R$ 10,36 bilhões passados.
Em razão da crise endêmica, o cenário econômico do país vem se alterando, semana após semana, provocando mudanças no comportamento do consumidor. Se no início do ano a tendência sinalizava maior atenção nas finanças pessoais, a partir da última quinzena de março o foco principal foi o isolamento social em benefício da saúde.
Os dados de março ainda não refletiram o alcance da nova postura. Na retrospectiva da somatória das adesões dos meses de janeiro a março nos últimos dez anos, de 2011 a 2020, o maior volume foi o do trimestre deste ano, recorde na década.
O total de consorciados ativos bateu 7,41 milhões em março, 2,9% maior que os 7,20 milhões daquele mês em 2019.
“Os resultados positivos do trimestre nos surpreenderam”, diz Rossi. “Todavia, observamos que os indicadores de março já contabilizaram quase 25% de retração em relação a fevereiro, confirmando o natural distanciamento dos consumidores. Em abril, possivelmente tenhamos uma redução ainda maior. Confiamos e esperamos que, em breve, passada a pandemia, nossa economia volte para a rota de crescimento que estava se desenhando e o Sistema de Consórcios, que vem apresentando números expressivos ao longo dos anos, continue a ser instrumento importante para o crescimento pessoal, familiar, empresarial e do país”.