Democrata discursou na noite de sábado, em Delaware. Sua meta é unir os Estados Unidos. Leia também o discurso de Kamala Harris como vice-presidente nos EUA, que abriu a noite do evento da vitória.
Leia a íntegra a seguir:
Meus conterrâneos americanos, o povo deste país falou. Ele nos deu uma clara vitória, uma vitória convincente, uma vitória para “Nós, o povo”. Nós vencemos com o maior número de votos já dados a uma chapa presidencial na história deste país –74 milhões. Estou comovido pela confiança e a fé que vocês depositaram em mim.
Prometo ser um presidente
que não busca dividir, mas unir. Que não vê estados vermelhos e azuis, mas os
Estados Unidos. E que trabalhará com todo o seu coração para conquistar a
confiança de toda a população.
Pois isso é do que se trata a América: o povo. E é disso que tratará nosso
governo.
Eu quis ter este cargo para restaurar a alma da América. Para reconstruir a espinha dorsal do país –a classe média.
Para fazer a América ser respeitada em todo o mundo novamente e nos unir aqui em casa. É a maior honra da minha vida que tantos milhões de americanos tenham votado nessa visão. E agora o trabalho de realizar essa visão é a tarefa de nossa época.
Como eu já disse muitas
vezes, sou o marido de Jill. Eu não estaria aqui sem o amor e o apoio
incansável de Jill, Hunter, Ashley, todos os nossos netos e seus cônjuges e
toda a nossa família. Eles são meu coração.
Jill é uma mãe –uma mãe militar– e uma educadora. Ela dedicou sua vida à
educação, mas ensinar não é só o que ela faz –é quem ela é. Para os educadores
da América, este é um ótimo dia: vocês terão uma de vocês na Casa Branca, e
Jill vai ser uma ótima primeira-dama.
E eu terei a honra de servir com uma fantástica vice-presidente, Kamala Harris, que fará história como a primeira mulher negra, a primeira mulher de origem sul-asiática e primeira filha de imigrantes já eleita para um cargo nacional neste país.
Isso já devia ter acontecido há muito tempo, e somos lembrados hoje à noite de todos os que lutaram firmemente durante tantos anos para que acontecesse. Mas mais uma vez a América curvou o arco do universo moral em direção à justiça.
Kamala, Doug, gostem ou não, vocês são da família. Vocês se tornaram Bidens honorários e não há como escapar.
A todos os voluntários, que trabalharam nas pesquisas no meio desta pandemia, autoridades eleitorais locais –vocês merecem um agradecimento especial deste país.
À minha equipe de campanha, e todos os voluntários, a todos os que deram tanto de si para tornar possível este momento, eu devo tudo a vocês.
E a todos os que nos apoiaram: orgulho-me da campanha que fizemos e conduzimos. Estou orgulhoso da coalizão que formamos, a mais ampla e diversificada da história. Democratas, republicanos e independentes. Progressistas, moderados e conservadores. Jovens e velhos. Urbanos, suburbanos e rurais. Gays, héteros, transgêneros. Brancos, latinos, asiáticos, americanos nativos.
E especialmente por aqueles momentos em que esta campanha esteve mais frágil, a comunidade afro-americana se ergueu novamente por mim. Eles sempre terão meu apoio, e eu o de vocês.
Eu disse desde o começo que queria uma campanha que representasse a América, e acho que a fizemos. Agora é assim que eu quero que seja o governo.
E, aos que votaram no presidente Trump, eu compreendo sua decepção nesta noite. Eu mesmo já perdi algumas eleições. Mas agora vamos dar uma chance uns aos outros. Está na hora de pôr de lado a retórica dura. De baixar a temperatura. De vermos uns aos outros de novo. De escutarmos uns aos outros de novo.
Para progredir, precisamos parar de tratar nossos oponentes como inimigos. Não somos inimigos. Somos americanos.
A Bíblia nos diz que para tudo há um tempo certo, um tempo para construir, um tempo para colher, um tempo para semear. E um tempo para curar. Este é o momento de curar a América.
Agora que a campanha terminou –qual é o desejo da população? Qual é nosso mandato? Acredito que seja este: os americanos nos chamaram para controlar as forças da decência e as forças da justiça. Para controlar as forças da ciência e as forças da esperança nas grandes batalhas de nossa época.
A batalha para controlar o vírus. A batalha para construir prosperidade. A batalha para garantir tratamento de saúde para sua família. A batalha para conseguir justiça racial e extirpar o racismo sistêmico deste país. A batalha para salvar o clima. A batalha para restaurar a decência, defender a democracia e dar a todos neste país uma chance justa.
Nosso trabalho começa por controlar a Covid. Não podemos reparar a economia, restaurar nossa vitalidade ou desfrutar os momentos mais preciosos da vida, abraçar um neto, aniversários, casamentos, formaturas, todos os momentos mais importantes para nós, enquanto não tivermos esse vírus sob controle.
Na segunda-feira vou nomear um grupo de importantes cientistas e especialistas como assessores da transição para ajudar a pegar o plano Biden-Harris para a Covid e transformá-lo em um plano de ação que começa em 20 de janeiro de 2021. Esse plano será construído sobre um alicerce científico. Será construído com compaixão, empatia e preocupação.
Não pouparei esforços –ou
dedicação– para reverter esta pandemia.
Eu disputei como um orgulhoso democrata. Agora serei um presidente americano.
Vou trabalhar duro por aqueles que não votaram em mim –assim como para os que
votaram. Deixem esta triste era de demonização na América terminar aqui e
agora.
A recusa dos democratas e republicanos a cooperar uns com os outros não se deve a uma força misteriosa fora de nosso controle. É uma decisão. É uma opção que fazemos.
E se podemos decidir não cooperar também podemos decidir cooperar. E acredito que isso faz parte do mandato para a população americana. Vocês querem que nós cooperemos.
Essa é a opção que farei. E eu peço ao Congresso –democratas e republicanos igualmente– que façam essa opção comigo.
A história americana tem a ver com a lenta mas constante ampliação das oportunidades. Não se enganem: muitos sonhos foram retardados por um tempo longo demais. Devemos tornar a promessa do país real para todos, não importa sua raça, etnia, religião, identidade ou deficiência.
A América sempre foi moldada por pontos de inflexão – por momentos no tempo em que tomamos decisões difíceis sobre quem somos e o que queremos ser.
Lincoln em 1860 – vindo
para salvar a União.
Franklin Roosevelt em 1932 – prometendo um New Deal a um país perturbado.
John Kennedy em 1960 – prometendo uma Nova Fronteira.
E 12 anos atrás – quando Barack Obama fez história– e nos disse: “Sim, nós
podemos”.
Estamos novamente em um
ponto de inflexão. Temos a oportunidade de derrotar o desespero e construir uma
nação de prosperidade e propósitos.
Podemos fazer isso, sei que podemos.
Já falei muito sobre a batalha pela alma da América. Devemos restaurar a alma da América. Nosso país é moldado pela batalha constante entre nossos melhores anjos e nossos impulsos mais obscuros. Está na hora de nossos melhores anjos prevalecerem.
Nesta noite, o mundo
inteiro está olhando para a América. Acredito que em nosso melhor momento a
América é um farol para o mundo. E lideramos não pelo exemplo de nosso poder,
mas pelo poder de nosso exemplo.
Eu sempre acreditei que podemos definir a América em uma palavra:
possibilidades. Que na América todos devem ter a oportunidade de ir tão longe
quanto seus sonhos e a capacidade dada por Deus os levarem.
Vocês veem, eu acredito na possibilidade deste país. Estamos sempre olhando à
frente. À frente para uma América mais livre e mais justa. Para uma América que
cria empregos com dignidade e respeito. À frente para uma América que cura
doenças –como câncer e Alzheimer. À frente para uma América que nunca deixa
ninguém para trás.
Uma América que nunca
desiste, nunca se rende. Esta é uma grande nação. E nós somos um bom povo. Isto
são os Estados Unidos da América. E nunca houve nada que não conseguimos fazer
quando o fizemos juntos.
Nos últimos dias da campanha, tenho pensado em um hino que representa muito
para mim e minha família, especialmente para meu filho Beau, já falecido. Ele
captura a fé que me sustenta e que eu acredito que sustenta a América.
E espero que possa dar algum conforto e alívio às mais de 230 mil famílias que perderam um ser amado para esse vírus terrível neste ano. Meu coração está com cada um de vocês. Espero que este hino lhes dê alívio também.
“E Ele os erguerá com
asas de águia,
Os sustentará no sopro do amanhecer,
Os fará brilhar como o sol,
E os segurará na palma de Sua mão.”
E agora, juntos – nas asas da águia– embarcamos no trabalho que Deus e a história nos pediram para fazer.
Com corações plenos e mãos firmes, com fé na América e nos outros, com amor pelo país –e sede de justiça–, sejamos a nação que sabemos que podemos ser.
Uma nação unida. Uma nação fortalecida. Uma nação curada. Os Estados Unidos da América.
Deus os abençoe. E que Deus proteja nossas tropas.
Leia a íntegra do discurso da vitória de Kamala Harris
Vice-presidente eleita nos EUA abriu a noite de discursos em Delaware
Kamala Harris, vice-residente eleita dos EUA, fez um discurso da vitória na noite de sábado (7), em Wilmington, Delaware.
Leia a íntegra a seguir.
Boa noite. Antes de morrer, o congressista John Lewis escreveu: “A democracia não é um estado. É um ato”. E o que ele quis dizer é que a democracia na América não está garantida. Ela é tão forte quanto a nossa vontade de lutar por ela, de protegê-la e de nunca considerá-la como dada.
E proteger a nossa democracia exige luta. Exige sacrifício. Há alegria e há progressos.
Porque nós, o povo, temos o poder de construir um futuro melhor. E quando nossa democracia estava nas urnas nesta eleição, com a própria alma dos Estados Unidos em jogo, e o mundo olhando, vocês inauguraram um novo dia para a América.
A todos os funcionários e voluntários da nossa campanha, esse time extraordinário, obrigada por trazer mais gente do que nunca para o processo democrático e por fazer esta vitória possível.
Aos trabalhadores nos locais de votação e autoridades eleitorais no país inteiro, vocês trabalharam incansavelmente para garantir que todo voto seja contado –nossa nação tem com vocês uma dívida de gratidão por terem protegido a integridade da nossa democracia.
E ao povo americano que forma nosso belo país, obrigada por irem às urnas em número recorde para fazer com que suas vozes fossem ouvidas.
Eu sei que foram tempos desafiadores, especialmente os últimos meses. O luto, a tristeza e a dor. As preocupações e as lutas. Mas nós também testemunhamos a sua coragem, sua resiliência e a generosidade do seu espírito.
Por quatro anos, vocês marcharam e se organizaram por igualdade e justiça, por nossas vidas e por nosso planeta. E, então, vocês votaram. E mandaram uma mensagem clara.
Vocês escolheram a esperança, a união, a decência, a ciência e, sim, a verdade.
Vocês escolheram Joe Biden como o novo presidente dos Estados Unidos da América.
Joe é um curador. Um agregador. Uma mão firme e testada. Alguém cuja própria experiência com a perda dá a ele um senso de propósito que vai nos ajudar, como nação, a recuperar nosso próprio senso de propósito. E um homem com um coração enorme que ama sem restrição. É o amor dele por Jill, que será uma primeira-dama incrível. É o amor por Hunter, Ashley, seus netos e a família Biden.
Eu conhecia Joe apenas como vice-presidente, mas passei a conhecê-lo também como o pai que amou Beau, meu querido amigo, que nós lembramos aqui hoje.
Ao meu marido, Doug, nossos filhos, Cole e Ella, minha irmã Maya e toda a nossa família –eu amo vocês mais do que consigo expressar.
Também somos muito gratos a Joe e Jill por receberem nossa família na deles nesta jornada incrível.
E à mulher mais responsável pela minha presença hoje aqui – minha mãe, Shyamala Gopalan Harris, que está sempre em nossos corações.
Quando ela chegou aqui, vinda da Índia, com 19 anos, ela talvez não imaginasse este momento. Mas ela acreditava muito profundamente numa América em que um momento como este é possível.
Então, estou pensando nela e em gerações de mulheres –mulheres negras. Asiáticas, brancas, latinas ou indígenas através da história da nossa nação que pavimentaram o caminho para este momento.
Mulheres que lutaram e sacrificaram tanto por igualdade, liberdade e justiça para todos, incluindo as mulheres negras, esquecidas vezes sem conta, mas que provam reiteradamente que são a espinha dorsal da nossa democracia.
A todas as mulheres que trabalharam para garantir e proteger o direito ao voto por mais de um século; 100 anos atrás, com a 19a Emenda, 55 anos atrás, com a Lei dos Direitos ao Voto, e agora, em 2020, com uma nova geração de mulheres no nosso país que votam e continuam a lutar por seu direito fundamental de votarem e de serem ouvidas.
Nesta noite, eu reflito sobre a sua luta, a sua determinação e a força de sua visão –para ver o que pode ser aliviado pelo que já foi–, eu sigo os passos delas.
E que prova para o caráter de Joe que ele tenha tido a audácia de vencer uma das maiores barreiras que existem em nosso país e escolher uma mulher como sua vice-presidente.
Eu posso ser a primeira mulher neste cargo, mas não serei a última. Porque toda garotinha nos assistindo hoje vai ver que este é um país de possibilidades. E às crianças do nosso país, independentemente do seu gênero, nosso país mandou uma mensagem clara: sonhe com ambição, lidere com convicção e se veja onde os outros podem não ver você, simplesmente porque eles nunca viram antes. E nós aplaudiremos vocês em todos os passos do caminho.
Ao povo americano: não importa em quem vocês votaram, vou me esforçar para ser a vice-presidente que Joe foi para o presidente Obama –leal, honesta e preparada, acordando todos os dias pensando em vocês e nas suas famílias. Porque é agora que começa o trabalho de verdade. O trabalho duro. O trabalho necessário. O trabalho bom.
O trabalho essencial para salvar vidas e vencer a pandemia. Reconstruir nossa economia para que ela funcione para os trabalhadores. Erradicar o racismo sistêmico em nosso sistema de Justiça e em nossa sociedade. Combater a crise climática. Unir nosso país e curar a alma da nossa nação.
A estrada pela frente não será fácil. Mas a América está pronta. Assim como Joe e eu.
Nós elegemos um presidente que representa o melhor em nós. Um líder que o mundo vai respeitar e a quem as nossas crianças podem admirar.
Um comandante que vai respeitar nossas tropas e manter nosso país seguro. E um presidente para todos os americanos. É com muita honra que apresento o presidente eleito dos EUA, Joe Biden.
07 – 11 – Joe Biden vence e é eleito presidente dos Estados Unidos
O candidato democrata Joe Biden será o novo presidente dos Estados Unidos, segundo cálculos de meios de comunicação norte-americanos, depois de ter conseguido os 20 votos do estado da Pensilvânia. Dados da agência Reuters apontam que o democrata teve 273 delegados, enquanto o republicano Donald Trump teve 214.
Joe Biden foi vice-presidente dos Estados Unidos no governo de Barak Obama e será o presidente mais velho a assumir a Casa Branca, aos 78 anos. Com a vitória de Biden, Kamala Harris será a primeira mulher negra a tornar-se vice-presidente dos EUA.
A população votou até a terça-feira (3). A contagem de votos ainda não foi finalizada e pode ser contestada por ações judiciais.
Foto Oficial em destaque: Washington DC 21 08 2020 do então Candidato Joe Biden e da senadora americana Kamala Harris vice na chapa do Partido Democrático.
*Com informações das agências Reuters e RTP
04 – 11 – Apuração põe Biden perto da vitória; Trump intensifica contestação
Votos ainda estão sendo apurados em alguns estados
O democrata Joe Biden se aproximava da vitória na eleição presidencial dos Estados Unidos (EUA) nesta quinta-feira (5), enquanto autoridades apuravam os votos em alguns estados que determinarão o resultado do pleito e a presença de manifestantes nas ruas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que tenta a reeleição, alegou fraude sem apresentar evidências, entrou com processos na Justiça e pediu recontagens de votos, em uma disputa que ainda não tem resultado dois dias depois de ser realizada.
Com as tensões crescendo, cerca de 200 apoiadores de Trump, alguns armados com rifles e pistolas, se reuniram do lado de fora do escritório eleitoral em Phoenix, no estado do Arizona, após rumores infundados de que os votos não estavam sendo contados.
Em Detroit, no estado de Michigan, autoridades impediram que cerca de 30 pessoas, a maioria republicanos, entrassem em um local onde os votos estão sendo apurados em meio a alegações, também sem fundamentos, de que a contagem no estado estava sendo fraudulenta.
Manifestantes contrários a Trump em outras cidades do país exigiam que a apuração continuasse. A polícia prendeu 11 pessoas e apreendeu armas em Portland, no estado do Oregon, depois de relatos de tumultos. Prisões também foram feitas em Nova York, Denver e Mineápolis. Mais de 100 manifestações estão programadas no país até sábado (7).
A disputa pela Casa Branca dependia de corridas acirradas em cinco estados. Biden tem vantagens apertadas em Nevada e no Arizona, enquanto Trump vê sua pequena dianteira diminuir na Pensilvânia e na Geórgia, estados em que precisa vencer e onde os votos por correio estão sendo contados. Trump tem pequena vantagem na Carolina do Norte, outro estado em que precisa vencer para ter chances de reeleição.
Trump precisa manter a liderança e vencer nos estados em que está à frente e conquistar Nevada ou Arizona para conseguir mais um mandato e evitar tornar-se o primeiro presidente norte-americano no cargo a perder uma reeleição desde o também republicano George H.W. Bush em 1992.
A Edison Research dá a Biden uma vantagem de 243 votos a 213 no Colégio Eleitoral. Outras projeções de emissoras de TV dão a Biden a vitória em Wisconsin, que lhe daria mais 10 votos. Para vencer, são necessários 270 votos no Colégio Eleitoral.
Biden, de 77 anos, previu nessa quarta-feira (4) que vencerá a eleição e lançou um site na internet para iniciar a transição para uma Casa Branca controlada pelos democratas a partir de janeiro.
Trump, de 74 anos, por várias vezes buscou minar a credibilidade do processo eleitoral. Desde terça-feira (3), dia da eleição, ele se declarou falsamente o vencedor do pleito, acusou sem provas os democratas de tentarem roubar a eleição e prometeu contestar os resultados em alguns estados nos tribunais.
Especialistas em eleições nos Estados Unidos afirmam que fraudes são raras no país.
Andy Sullivan – Repórter da Reuters – Washington
Enquanto EUA contam votos, mundo espera resultado das eleições
Apuração ainda precisa ser concluída em pelo menos cinco estados
Um dia depois de os norte-americanos terem votado em uma eleição acirrada, o restante do mundo aguarda ansioso, nesta quarta-feira, pela contagem de milhões de votos, diante de um risco crescente de dias ou mesmo semanas de incerteza jurídica.
A declaração antecipada de vitória do presidente Donald Trump na Casa Branca foi condenada por alguns especialistas políticos e grupos de direitos civis, que alertaram sobre o atropelo de normas democráticas de longa data.
A maioria dos líderes mundiais e chanceleres ficou em silêncio, tentando não adicionar combustível à fogueira eleitoral.
“Vamos esperar para ver qual será o resultado”, disse o secretário de Relações Exteriores britânico, Dominic Raab. “Obviamente, há uma quantidade significativa de incerteza. Acredito que está muito mais apertado do que muitos esperavam.”
Mas, enquanto Raab e outros defendiam cautela, o primeiro-ministro esloveno parabenizou Trump e o Partido Republicano via Twitter.
“Está muito claro que o povo americano elegeu @realDonaldTrump e @Mike_Pence por mais 4 anos”, escreveu Janez Jansa, um dos vários líderes do Leste Europeu, incluindo Viktor Orban, da Hungria, que são aliados fervorosos de Trump. “Parabéns pelos bons resultados.”
A contagem mais recente de votos mostrava o democrata Joe Biden com uma vantagem no Colégio Eleitoral – 224 contra 213, com 270 necessários para a vitória – mas a apuração ainda precisa ser concluída em pelo menos cinco importantes Estados: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Carolina do Norte e Geórgia.
No Twitter, as hashtags #Trump, #Biden e #USElections2020 bombaram da Rússia ao Paquistão, Malásia ao Quênia e em toda Europa e América Latina, enfatizando o quanto todas as regiões do mundo veem o resultado como fundamental.
Na Rússia, acusada por agências de inteligência dos EUA de tentar interferir nas eleições, não houve reação oficial.
Na Austrália, multidões assistiram aos resultados enquanto bebiam cerveja em um bar americano em Sydney.
Alguns destacaram as ramificações da eleição nos EUA em todo o mundo. “Acho que afeta a todos nós, o que acontece lá realmente importa nos próximos quatro anos aqui”, afirmou o morador de Sydney Luke Heinrich.
A China, cujas relações com os Estados Unidos chegaram ao pior nível em décadas sob Trump, disse que a eleição é um assunto doméstico e que “não tem posição a respeito”.
A Human Rights Watch, com sede em Nova York, um dos principais grupos de direitos civis do mundo, alertou sobre a necessidade de guardar julgamento sobre os resultados até que cada voto seja contado. Com um número muito alto de cédulas pelo correio este ano por causa da pandemia de covid-19, espera-se que as contagens completas levem dias em alguns estados.
Luke Baker, Libby George e Daria Sito-Sucic
Repórteres da Reuters – Londres
03 – 11 – EUA: polarização e votos pelo correio podem gerar batalha jurídica
Norte-americanos elegem hoje novo presidente
A eleição presidencial dos Estados Unidos (EUA) nesta terça-feira (3) tem todos os ingredientes para uma prolongada batalha jurídica pelo seu resultado: um eleitorado altamente polarizado, um número recorde de votos pelo correio e alguns ministros da Suprema Corte que parecem prontos para intervir se a disputa for acirrada e contestada.
O único elemento que falta, que levaria os dois lados ao tribunal, seria um resultado apertado em um Estado-pêndulo, onde a preferência da maioria do eleitorado oscila entre um partido e outro.
“Se o resultado final depender da Pensilvânia ou da Flórida, eu acho que teremos a batalha jurídica das nossas vidas”, disse Jessica Levinson, professora de lei eleitoral da Loyola Law School, de Los Angeles.
Disputas eleitorais não são incomuns, mas elas geralmente acontecem em eleições locais ou estaduais, segundo especialistas em lei eleitoral.
Este ano, nos meses anteriores ao pleito de 3 de novembro entre o presidente Donald Trump e o democrata Joe Biden, a pandemia do novo coronavírus alimentou centenas de desafios legais, envolvendo de assinaturas de testemunhas a carimbos postais e uso de caixas postais para depositar as cédulas.
Duas decisões judiciais recentes sobre o prazo para a contagem dos votos pelo correio aumentaram a probabilidade de uma batalha legal pós-eleição se o resultado na Pensilvânia ou em Minnesota, outro estado crucial, for apertado, dizem especialistas em lei eleitoral.
A 8ª Corte de Apelação dos EUA decidiu, em 29 de outubro, que o plano de Minnesota para estender o prazo para a contagem das cédulas enviadas pelo correio era uma manobra inconstitucional do secretário de Estado local, o democrata Steve Simon.
Autoridades de Minnesota foram instruídas a “segregar” cédulas recebidas depois de 3 de novembro.
Simon afirmou que as autoridades não apelariam à Suprema Corte, mas mais litígios nos tribunais inferiores determinarão se essas cédulas serão contadas.
Enquanto isso, em 28 de outubro, a Suprema Corte manteve uma decisão do tribunal superior da Pensilvânia, que permitiu que as autoridades contassem cédulas enviadas pelo correio postadas no dia da eleição e recebidas até três dias depois.
Os juízes disseram que não havia tempo suficiente para revisar a decisão. Como em Minnesota, autoridades da Pensilvânia segregarão essas cédulas, preparando uma potencial batalha legal se a eleição for acirrada.
Qualquer batalha legal disputada diante da Suprema Corte terá maioria conservadora de 6 x 3 após a confirmação de Amy Coney Barrett, em 26 de outubro. Três dos ministros foram indicados por Trump.
O presidente disse, em setembro, que queria sua indicada confirmada porque a eleição acabaria na Suprema Corte. “Acho que é muito importante que tenhamos nove ministros”.
Tom Hals
Repórter da Reuters – Washington