“Há uma política para evitar excessos e alinhar o câmbio”, afirma
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje (8) que o câmbio é flutuante (definido pelo mercado), mas existe uma política para evitar excessos. Ele afirmou ainda que o BC está preparado para fazer atuação maior, a qualquer momento, se for necessário.
“Existe uma política para evitar excessos, alinhar o câmbio e estabilizar os mercados”, disse em transmissão ao vivo pela internet promovida pelo banco Credit Suisse. Ele acrescentou que o BC tem “arsenal bastante grande” para atuar no mercado de câmbio. “Parte do mercado advogava fazer programas mais agressivos para o câmbio, nós sempre entendemos que era importante dar liquidez, não influenciar a trajetória de preço, mas sempre olhando o real em relação a outras moedas. Nós temos um arsenal bastante grande. Entendemos que o real desvalorizou muito e um pouco mais em relação a outras moedas. Estamos preparados a qualquer momento para fazer uma coisa maior, se for necessário, no câmbio, mas entendemos que o câmbio é flutuante”, afirmou.
Medidas
Campos Neto disse ainda que houve críticas de que as medidas adotadas para o enfrentamento da crise gerada pela pandemia de covid-19 teriam sido demoradas. Entretanto, ele afirmou que comparado a outros países, como os Estados Unidos, isso não é verdade. “E o impacto também das medidas, se considerar o que o Brasil fez em termos de liquidez e capital, 16,7% do PIB [Produto Interno Bruto], não tem nenhum outro país emergente que tenha feito nada parecido. Quando pega a potência fiscal, em termos de dinheiro novo, o Brasil está um pouco acima de mercados emergentes”.
Contratos
Campos Neto disse que tem enfatizado a importância de cumprimento de contratos, como aluguel e crédito, por exemplo. “A crise com interrupção nos contratos se torna muito mais aguda, com uma demora na recuperação muito maior. Tivemos indício de quebra de contrato, tentativa de quebra de contrato de energia, alugueis. A parte de [crédito] consignado, que não faria nenhum sentido porque o consignado está ligado em grande parte a um servidor [público] que tem estabilidade, não vai ter o salário afetado. Do ponto de vista do governo, é melhor ter um fiscal um pouco pior e ter a certeza de que todos os contratos são cumpridos”, acrescentou.
Impacto na economia
O presidente do BC afirmou que o impacto da crise na economia brasileira vai depender do tempo de duração do distanciamento social. “É um vírus que tem letalidade muito baixa, mas a contaminação é muito alta. E tem obviamente os trade off [prós e contra de uma decisão] entre ter uma curva mais acelerada [aumento dos casos da doença] e criar uma imunidade e o custo econômico. O Banco Central não entra na discussão dessas escolhas. A gente entende que é uma política de governo”.
“O que dá para fazer é tentar passar credibilidade para as pessoas de que o governo vai ajudar. O governo não vai deixar nenhuma ruptura, vai olhar os setores mais prejudicados. O governo não quer promover vencedores e perdedores, quer que todos sejam vencedores. [Mas] alguns nessa crise vão ser perdedores, vão ter mais impacto do que outros. O governo vai tentar fazer com que isso seja da forma mais linear possível”, afirmou Campos Neto.
Ele acrescentou que uma queda na economia este ano é quase certa. “Talvez as próximas duas ou três semanas sejam as mais importantes no sentido de ver como vai se comportar”.
Campos Neto destacou que o momento é de união. “É um momento muito difícil. Nós precisamos de unidade. Alguns elementos que causaram dificuldades adicionais foram internos – às vezes desorganização entre estados e municípios e o governo federal, às vezes ruídos gerados pela própria coordenação, que é difícil. Mas o momento é de união. O trabalho tem sido bastante intenso”, disse.
Geopolítica
O presidente do BC afirmou também que passada a crise, a geopolítica vai ficar “bastante diferente”, o que pode ser prejudicial para países emergentes. Segundo ele, haverá maior distanciamento do mundo desenvolvido em relação aos países emergentes. “Os países emergentes estão muito inseridos nas cadeias globais de valor”. Campos Neto destacou que, nos últimos anos, grande parte do crescimento dos emergentes ocorreu com base na especialização na produção. Ele citou equipamentos médicos produzidos por países asiáticos.
De acordo com o presidente do BC, depois da crise os países desenvolvidos podem passar a produzir bens, que antes eram importados das nações em desenvolvimento. “Se você tiver país desenvolvido tendo que voltar a produzir bens que já não tinha vantagem comparativa, provavelmente a gente está numa situação de um crescimento estrutural mundial mais baixo por tempo maior”, disse.
Kelly Oliveira
Agência Brasil
26 – 03 – Presidente do BC diz que atual patamar da Selic é apropriado
Perspectiva não mudou desde a última reunião do Copom, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje (26) que neste momento o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, é apropriado. A taxa está em 3,75% ao ano, depois de um corte de 0,5 ponto percentual na semana passada.
Ele afirmou que a perspectiva do BC sobre a Selic não mudou desde a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir o índice. “Na ata mencionamos que entendemos que neste momento a taxa de juros está apropriada. Hoje não vejo nenhuma razão para ter nenhuma interpretação diferente do que foi dado”, disse ao ser questionado se haveria reunião extraordinária do Copom, em entrevista transmitida pela internet sobre o Relatório de Inflação.
Sobre a previsão do BC de estabilidade da economia este ano, Campos Neto afirmou que a estimativa foi feita com base em dados disponíveis até a reunião do Copom. Ele destacou que no atual cenário as informações são atualizadas com mais frequência e os dados diários passam a ser muito mais relevantes para analisar se indicam novas tendências. Campos Neto acrescentou que o cenário do BC para a economia não prevê situação de desabastecimento.
Crédito
Segundo Campos Neto, já há relatos de empresários de aumento do custo do crédito. Ele explicou que isso acontece por maior demanda das empresas por determinadas linhas de crédito e também pelo maior risco de inadimplência. “A crise pode gerar uma inadimplência maior e isso custa capital para o banco”, afirmou, acrescentando que o BC está atento ao mercado de crédito.
Sobre a projeção do BC de menor crescimento do crédito este ano, Campos Neto disse que é natural a revisão no cenário atual, mas ponderou que o cenário incerto dificulta a elaboração de projeções. “Obviamente em um cenário de economia mais baixa, num cenário de incerteza, esse número sempre é ajustado para baixo”, disse.
Câmbio
Sobre a política de intervenção do BC no mercado de câmbio, Campos Neto disse que tem sido “de sucesso” e está atendendo o seu propósito. “Temos arsenal muito grande, acompanhamos negociação da moeda, tentamos identificar onde está a demanda se está mais no mercado futuro, se está mais no mercado à vista. Não temos nenhum preconceito em usar nenhum tipo de instrumento. Entendemos que existem alguns momentos de disfunção onde nós temos que atuar com mais intensidade”, afirmou.
Reformas
O BC tem reforçado que a continuidade das reformas é importante para a economia brasileira. No relatório, o BC enfatiza que “perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”.
Segundo Campos Neto, as medidas de enfrentamento da pandemia vão gerar impulso fiscal, mas será momentânea. Ele destacou que “grande parte da queda de juros” ocorreu porque, antes da atual crise, existia o entendimento de que o país passou a ter disciplina fiscal, ao criar o teto de gastos e fazer a reforma da previdência.
Impactos da crise
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, disse que a crise gerada pelo novo coronavírus tem levado a “revisões brutais” nas estimativas de crescimento da economia no mundo, além de serem mais frequentes.
Ele afirmou que as políticas públicas de distanciamento social aumentam a recessão econômica, ao restringir a oferta de trabalho. “Não é o trabalho dos economistas, nem uma opinião do Banco Central. É fato que, conforme faz mais política pública para achatar a curva de número de novos casos da doença, causa mais restrição à oferta de trabalho e aprofunda a recessão econômica”, disse Kanczuk.
Entretanto, ele afirmou que “se não fizer nenhuma política pública para conter a dispersão da epidemia, um grupo muito grande começa a ter a doença muito rápido”, o que levaria ao problema de não ter número suficiente de leitos para atender todos os doentes. “Então se faz política pública para tentar achatar essa curva e espalhar o número de pessoas doentes no tempo e com isso atender mais pessoas com o mesmo número de leitos, mesmo número de respirados”, disse o diretor.
24 – 03 – Covid-19: Campos Neto diz que BC tem arsenal para enfrentar crise
O Banco Central (BC) tem um arsenal muito grande para fazer frente a qualquer tipo de crise, afirmou o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ao anunciar medidas de enfrentamento aos efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia.
“O arsenal que o Banco Central tem é muito grande pra combater qualquer tipo de crise. O Banco Central está absolutamente tranquilo e o sistema financeiro nacional vai funcionar perfeitamente. Estamos aqui para prover qualquer tipo de incentivo que for necessário”, disse, em entrevista, transmitida pela internet.
Hoje, o BC anunciou redução de depósitos compulsórios (recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no Banco Central) e linha de empréstimos a instituições financeiras, com garantia de debêntures (títulos privados). Além disso, foi autorizada a captação de depósito a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que permite expansão na concessão de crédito em cerca de R$ 200 bilhões, entre outras medidas para liberar recursos na economia.
Campos Neto afirmou que não está descartada nova redução de compulsório e que o BC estuda ainda outra medida, que seria o empréstimo do BC aos bancos, tendo como garantia a carteira de crédito. Segundo ele, o valor pode chegar a R$ 670 bilhões.
Segundo Campos Neto, o conjunto de medidas de liberação de liquidez (recursos disponíveis no mercado) anunciadas até agora pelo BC correspondem a 16,7% (R$ 1,2 trilhão) do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Na crise financeira internacional, de 2008, esse percentual foi menor: 3,5% (R$ 117 bilhões) do PIB. Campos Neto classificou as medidas anunciadas até agora como “o maior plano de injeção de liquidez e capital da história do país”.
Corrida por ativos seguros
Campos Neto avaliou que, com a crise, houve uma migração de investimentos de maior risco pra os de menor risco, ou seja, uma “corrida por ativos mais seguros”. “Houve grande saída de dinheiro de mercados emergentes, uma grande saída de todos os ativos de risco no mundo, com grande parte das moedas desvalorizando, principalmente as moedas de países emergentes. E a gente tem então esse fator incerteza que tem dominado o cenário nas últimas semanas. As reações dos mais diversos governos nesse ambiente de incerteza tem indicado esse grau de gravidade e nós entendemos que essas turbulências financeira vão estar conosco durante um tempo”, afirmou.
Campos Neto disse que, enquanto para os consumidores a incerteza os leva a querer estocar comida e álcool em gel, as empresas buscam ter recursos para atravessar a crise. “O mundo empresarial não é muito diferente. As empresas, principalmente as pequenas e médias, têm incerteza de quanto tempo elas vão ter que navegar nessa crise, quanto tempo vão ter que ficar sem receber o dinheiro das atividades do dia a dia. Então, tem uma busca por liquidez. Do mesmo jeito que as pessoas se comportam tentando estocar produtos, no mundo financeiro tem uma procura maior por liquidez. É muito importante entender isso. O Banco Central tem que ter condições para garantir liquidez para ter certeza que vamos atravessar isso sem maiores problemas”, disse Campos Neto.
Ondas
Campos Neto afirmou que a crise veio em “ondas”. “Tivemos primeiro uma grande onda, com efeito mais localizado na Ásia. Existia um entendimento de que teria problema de oferta. Vários componentes produzidos na Ásia não chegariam às nossas fábricas e poderia atrapalhar a produção de bens. Era um choque de oferta. Existia uma preocupação que isso fosse criar uma ruptura no processo produtivo, que fosse ter alguns impacto na parte de emprego. Mas a economia do Brasil é relativamente fechada, então o efeito disso no Brasil seria pequeno”
Segundo o presidente do BC, a segunda onda é a que veio com o isolamento social no Brasil, impactando “fortemente” o setor de serviços, responsável por 63% do PIB. Segundo ele, esse cenário foi antecipado pelo BC que começou a prover o mercado de liquidez.
De acordo com Campos Neto, a recuperação do setor de serviços é diferente da indústria, por exemplo, que passada a crise, pode aumentar as horas trabalhadas para produzir. “Quando deixa de consumir serviços, é difícil compensar a perda. A indústria pode recuperar o que foi perdido”, disse citando como exemplo, que não se corta o cabelo várias vezes para recuperar os dias em que não foi possível ter acesso ao serviço.
Campos Neto disse ainda que a crise atual é diferente da de 2008. “Foi uma crise de alavancagem financeira. Alavancagem gerou a percepção de que o sistema financeiro tinha problemas. Isso permeou para a economia real. Essa crise agora é totalmente diferente. A gente tem um cenário em que os bancos estão muito menos alavancados no Brasil e no mundo. O sistema financeiro passou por uma reformulação completa. O sistema bancário está muito mais sólido. É uma crise muito mais da economia real”.
Questionado sobre o tempo de duração da crise, Campos Neto afirmou: “é uma incógnita para todo mundo”. “Esse é um tema do Ministério da Saúde. O que eu preciso é ter amplas condições de liquidez e capital para atravessar essa crise, de ter condições estimulativas para que a economia se recupere. As medidas que nós tomamos estão atendendo essas exigências”, afirmou.
Kelly Oliveira
Agência Brasil