O Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador foi comemorado no mundo digital longe das ruas e das praças. O ato virtual foi organizado pela Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical e outras centrais sindicais. Gravaram vídeos para a manifestação os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). União pelo país e ataques ao presidente Jair Bolsonaro foram os destaques do evento que teve atrações musicais com famosos como o Roger Waters (ex Pink Floyd) e Zélia Duncan.
Na manhã de ontem, no Palácio da Alvorada, o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que gostaria que todas as pessoas voltassem a trabalhar, mas ressaltou que a decisão não depende dele e sim de governadores e prefeitos. “Eu tenho certeza que, Deus acima de tudo, brevemente voltaremos à normalidade. Eu gostaria que todos voltassem a trabalhar, mas quem decide isso não sou eu. São os governadores e prefeitos”, afirmou.
A declaração foi dada a cerca de 20 agricultores, que convidados pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), estiveram com o presidente. Bolsonaro recepcionou o grupo na portaria da residência oficial e seguiu com eles para o interior do Palácio.
Segundo Bia Kicis, o grupo foi agradecer ao presidente a ajuda que ele tem dado ao agronegócio para que ninguém fique sem alimento.
Nas redes sociais, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), rebateu o presidente. Afirmou que Bolsonaro está se aproveitando da crise do coronavírus para sufocar as unidades federativas. Também disse que a conta de mortos e da crise econômica são, sim, responsabilidade do chefe do Executivo. “No 1º de maio, é importante que os trabalhadores saibam que o único que pode socorrer os que nesse momento padecem financeiramente é o governo federal. Em vez de asfixiar os estados, como parece querer o presidente, é preciso agir. A conta é do presidente. É assim em todo o mundo”, postou.
Já a grande manifestação virtual, organizada por entidades sindicais, foi o primeiro evento em que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva participaram juntos desde a eleição de Collor, em 1989, quando FHC apoiou o petista no segundo turno. A maioria dos convidados falou sobre a data em homenagem ao trabalhador, sobre o coronavírus e teceu críticas ao presidente.
FHC pediu união, mas não falou o nome de Bolsonaro. “A comemoração do 1º de maio expressa a solidariedade dos trabalhadores. A decisão de fazer uma só celebração com diversidade de organizações sindicais é muito importante. Este ano, temos a pandemia e as rápidas mudanças econômicas provocadas pelas tecnologias, e o medo da pandemia e do desemprego. Não é hora de nos desunirmos, mas de nos juntarmos para construir o futuro, a partir as condições do presente. São (condições) negativas, mas são as que temos. Temos que olhar pra frente, acreditar no futuro, olhar as pessoas e marchar juntos. Enfrentamos alguns problemas antigos e outros novos e temos que manter a democracia e a liberdade”, afirmou.
O ex-presidente Lula destacou as transformações que o vírus causou ao planeta em poucos meses, trancando em casa “mais de 3 bilhões de seres humanos e mudando a de forma dramática a vida de cada um de nós. Lula também falou em se preparar para o futuro. No final de sua mensagem, criticou Bolsonaro, ao dizer que o chefe do Executivo “debochou com a memória da morte de mais de 5 mil brasileiros. “A economia deixou o capitalismo nu. Foram necessários 300 mil cadáveres para a humanidade ver uma verdade que os trabalhadores conhecem que desde que nasceram. O que sustenta o capitalismo não é o capital, mas as pessoas, os trabalhadores”, disse.
Dilma Rousseff dedicou boa parte de sua fala para criticar o atual presidente. Disse que Bolsonaro é um político “que não se envergonha de promover a desordem e destruição da ordem apoiando protestos contra as instituições democráticas”. “A pandemia ganha contornos ainda mais graves no Brasil. O presidente deixa de atuar como um líder que deveria salvar vidas humanas. É triste que tenhamos que atravessar uma situação tão ruim em pleno século 21, tendo à frente um líder que elogia torturadores, desrespeita a vida das pessoas, despreza a ciência e trata governadores e prefeitos como inimigos, e se omite de uma crise econômica que se avizinha com desemprego em massa”, criticou.
Ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes também evitou mencionar Bolsonaro diretamente, apesar de serem adversários ferrenhos. “É muito bom ver a luta dos trabalhadores desde o fim da escravidão e conquista de muitos direitos. Essas conquistas históricas têm sido desmontadas, aproveitando o desespero de mais da metade da população. O Brasil já contava com 13 milhões de desempregados ainda antes do coronavírus. Temos que aproveitar a dura ocasião e estar à altura desses herois do passado. Temos que refletir o que aconteceu para chegar onde chegamos, e construir um novo projeto de desenvolvimento, com trabalhadores e famílias no centro, e não a destruição do nosso país”, disse.
A ex-ministra Marina Silva (Rede) classificou esse 1º de maio como o mais difícil desse século, em função da pandemia do novo coronavírus e afirmou que o momento é de união em defesa da vida.
“Nesse primeiro de maio temos que estar unidos em torno daquilo que mais interessa. E o que mais interessa é a defesa da vida, a proteção dos direitos e a defesa da democracia. É a hora da escolha entre a lógica perversa do mercado e a lógica amorosa do cuidado”, disse.
Ela fez críticas a Bolsonaro e por estimular as pessoas a irem para as ruas e atentar contra a democracia em meio à crise sanitária e econômica.